Dia mundial contra a violência doméstica

Que sociedade é esta que diz às mulheres que tudo é aceitável dentro de uma relação? Que tudo tem de aguentar porque o homem é quem dita a verdade e as regras. Se isto já é grave numa geração de mulheres mais maduras, que por influência de uma sociedade mais fechada em que cresceram, aceitam a violência como se nada se tratasse, o que dizer da geração mais jovem, da minha geração, em que cada vez mais jovens entram em relações de dependência irracional, numa sociedade que se diz mais aberta e moderna...

Embora os filmes, as séries nos digam o contrário, ter namorado não é tudo na vida, e existe uma fronteira que não se deve quebrar nunca, a do respeito mútuo. Quebrado esse laço, é inaceitável permanecer numa relação por quaisquer razões que sejam, porque essas, perante a violência e o fim da dignidade, são simplesmente insignificantes.

Campanhas de sensibilização, números úteis, slogans, não parecem surtir efeito. Talvez se devesse distribuir antes um pouco mais de auto-estima e orgulho próprio. Porque nós, mulheres, valemos e merecemos muito mais do que meros cobardes que levantam a mão a mulheres apaixonadas...

Viver sem sentir

O auto-domínio cerrado que nunca me deixa.

"...necessidade de controlar todas as situações"

A incapacidade de confiar, o cepticismo que me assola.

"-Até que ponto pode alguém viver sem confiar?"

O calculismo e os racionalismos.

"-De que te servem os custos e benefícios se o tempo passa tão rápido?"

O orgulho intocável e os valores pessoais, cada vez mais desvalorizados.

O inevitável sentimento de solidão.

Sinto falta de sentir e de viver.

Idealismo renovado

Hoje tive um dia muito inspirador.

Quando se tem um homem, que passou por vários campos de concentração, cujos membros da família (ainda) se encontram desaparecidos, numa ditadura militar impiedosa para todos os resistentes, que olha nos nossos olhos e nos pergunta:

"E vocês querem mudar o mundo?"

é impossível não nos emocionarmos.

Era de esperar que depois de todas as amarguras tivesse desistido de sonhar, de ambicionar um mundo melhor. Não só não parou, como tenta alimentar nos jovens um idealismo que lhe foi roubado na juventude falando-lhes de ideias tão nobres como justiça social e fraternidade. Acima de tudo, olhar para o lado e sair do circulo individualista que nos cega para a realidade social, cada vez mais ignorada.

Oscar Castro, director do teatro Aleph, ao invés de sucumbir à tristeza da tortura e da repressão, escrevia peças de teatro e punha todos os presos a ensaiá-las, fazendo autênticas peças de teatro a que nem os guardas resistiam. É a prova que a cultura e a arte são meios de resistência poderosíssimos, que tal como o sonho, são impossíveis de matar, por mais brutais que sejam os meios para o atingir.

"It seems this game is simply neverending"

Às vezes pergunto-me se não estarei a ser posta à prova, passando pelas mesmas situações n vezes.

Estes déjà vus repetidos já me enjoam e na verdade, o orgulho próprio já não sai inflamado como dantes, chegando já ao ponto extremo de o colocar em questão, nas mais variadas circunstâncias.

Só gostava que alguém me pudesse mostrar o caminho para onde seguir no meio deste pântano confuso e infernal onde me coloco demasiadas vezes.

"Oh dear, can't you see? It's them it's not me

We're not enemies; We just disagree"