segunda-feira, 1 de setembro de 2008

"Estou maravilhado!"


"Gostaram do espéctaculo?"
"Foi absolutamente magnífico!"
"Perfeito!"

Perante estas exclamações eufóricas e dotadas de uma total insenção de uso da razão, fiquei perplexa. A primeira coisa que me veio à cabeça foram aqueles videos antigos, que mostravam na escola, das massas embevecidas pelas paradas militares nazis em Berlim, com as bandeirinhas com a suástica cintilante, sempre presente. Sim, eram imponentes, hipnotizantes tendo como objectivo esse mesmo embevecimento, por forma a apagar das pessoas o verdadeiro significado de tudo aquilo, o que estava por trás de toda esta propaganda de facto, deslumbrante.
Ora, tendo acabado de visionar a abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, com algum desdém perante a (muita) hipocrisia que ali se manifestava (*cough* Comité Olímpico *cough*) e tentando não cair na teia do espectáculo de cores e movimentos que prentendia fazer esquecer toda a (merecida) polémica que envolveu a China pré-JO, qual foi o meu espanto ao perceber que as pessoas à minha volta tinham de facto caido na armadilha, encontrando-se estupefactas e muito, mas muito, maravilhadas."Duvido que a Inglaterra supere tal feito!" engoli eu ainda num estado de semi-espanto. De repente, o xadrez internacional tinha-se resumido a um mero campeonato de espectáculos de fogo de artifício, colocando em pano secundário o facto de a China ser uma ditadura há 40 anos e a Inglaterra das mais antigas democracia no mundo. "O que é que isso interessa?" provavelmente pensariam os embevecidos... "O que interessa é que o chinês voou ao acender a tocha olímpica!" Realmente, quem é que quer saber das democracias e das ditaduras? Sinceramente...

"Enquanto não tomarem consciência não se revoltarão,
e enquanto não se revoltarem não poderão tomar consciência."

1984, George Orwell

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