quinta-feira, 18 de março de 2010

Os "novos" miseráveis


Ao meio-dia, ao sair de casa deparo-me com eles, os que apelidamos de indigentes, a apanhar do chão os restos do Mercado. Frutas, vegetais, tudo... Espectáculo degradante da dignidade humana. Os homens do lixo, encarregues de limpar aquilo que os outros apanham do chão, aguardam já como tradição, que acabem a sua tarefa, para começar a sua.

Ao fim do dia, ao chegar a casa deparo-me com outro cenário, talvez não tão degradante mas não menos aflitivo. São eles de novo, mas desta vez submissos, aguardando o que para muitos é a única refeição do dia: uma sopa quente, que os leva a esperar obedientemente em fila. Vejo pessoas novas, velhas, homens e mulheres...

Com receio de os envergonhar, desvio o olhar, só para ver mais duas pessoas, desta vez a vasculharem o lixo à porta do meu prédio.

São os "novos" miseráveis (que de novo têm pouco, já que sempre existiram).
E esta é a Paris do século XXI. A civilização avança, o Mundo sofistica-se, mas as desigualdades e a degredo humano, esses permanecem intactos. Resta-nos assobiar e fingir que nada disto acontece a cada dia, nas cidades mais caras, modernas, e prósperas (para alguns, claro está)...

Ilustração original do Jean Valjean de "Os Miseráveis", livro escrito por Victor Hugo em 1862.

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