quarta-feira, 24 de março de 2010

Vulnerabilidades

Quando era criança quase que adorava estar doente. Faltar às aulas, ter a mãe constantemente a zelar por nós e pelos nossos caprichos (quero uma torrada! e um chá!), ter mimos e atenção, por horas indefinidas.

Estar doente enquanto se está sozinho é das piores sensações que já experimentei. Estar dorido de febre, tremendo, com a cabeça a estalar, ter que ir fazer o cházinho, tão característico da mãe, é-me estranho e não me parece algo normal. Para além dos males da gripe, sento uma falta de carinho e atenção que me aflige ao máximo.

Já passei por muito, aprendi bastante nestes últimos meses. Depressa uma pessoa se desabitua do hábito quotidiano de estar sentado ao computador, esperando que alguém, quase sempre a mãe, nos chame para jantar. Mesa posta, comida feita. Muitas vezes absorvida em breves minutos, seguidos dos quais nem um "obrigado", mas sim o levantar imediato da mesa. Actos irreflexos, involuntários, banais. Quando se vive sozinho, somam-se responsabilidades, obrigações "porque é que tenho de ir lavar a loiça se ainda ao almoço a lavei?"... porque ninguém o fará, senão eu.

Mas estar doente, não é algo que se consiga suportar, quando as saudades se acumulam. A semi-independência pela qual lutamos nunca visa estes momentos. "Se estiver doente? Desenrasco-me...". Mas estar doente, não é o mesmo que ter de cozinhar, ter de lavar a loiça, ou a roupa. Estar doente é estar vulnerável, é querer alguém do nosso lado, é o chá trazido sem demora.
E quando não o temos, somos a pessoa mais só deste Mundo.

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